terça-feira, março 28, 2006

As Últimas

Detesto sala de aula, seja como aluno ou professor. O ambiente acadêmico é inútil e entediante nas ciências humanas. Aprendam, crianças, não há nada que eles possam te ensinar errado que vocês não descubram do jeito certo sozinhos.

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Fiz minha namorada faltar sua aula de spinning e a levei para experimentar comida de verdade. Fomos ao Bar do Barba, atrás do campo de futebol, onde servem a melhor carne deste mundo. Imaginem um bife de picanha do tamanho do seu prato, assado na brasa, ao ponto, com dois dedos de gordura na lateral. Carne macia e suculenta com a gordurinha derretendo na boca. E, para acompanhar, feijão tropeiro, mandioca cozida com sal e cerveja gelada à vontade. Enfim, comida pra quem não tem medo de sentir um orgasmo durante o jantar. Ela adorou.

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Tomei posse no Conselho de Ética. Também faço parte de uma Comissão de Tecnologia e Informação, além de me dedicar à chefia que exerço há dois anos. Gostaria de falar mais a respeito do meu trabalho, mas prometi a mim mesmo resguardar a privacidade na internet. Só toquei no assunto por que, bem, de vez em quando tenho que satisfazer meu orgulho bobo e fútil, não é mesmo? Mas que falta de ética! *risos*

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Estava tomando minha cervejinha numa mesa de calçada, quando vejo um sujeito manobrar o carro feito louco, atravessá-lo entre as pistas e sair cantando pneus. Era um assalto. Roubaram uma lotérica ao lado do bar e tomaram o carro de uma senhora para a fuga. No dia seguinte, logo pela manhã, uma moça levou dois tiros no estacionamento. Assustador.

quarta-feira, março 22, 2006

FHC na Veja

Vocês leram a reportagem e entrevista com FHC na Veja desta semana? Claro que há confetes, mas, ainda assim, temos que admitir que o homem não foi pouca coisa na história do Brasil. Posso afirmar, sem erro, que foi o primeiro governo respeitável que testemunhei por aqui. Não digo nem que foi bom, o simples fato de ter sido respeitável nos aspectos político, administrativo e econômico, já foi algo incrível na nossa história.

Sou jovem, lembro pouco de Figueiredo, por exemplo. Também não me interessa fazer uma retrospectiva histórica dos governos anteriores à redemocratização. Afinal, isto aqui é apenas um blog e não pretendo começar a levá-lo a sério. Mas, o fato é que, ainda garoto, já me interessava e muito por política e economia, assuntos que ganhavam de goleada do futebol na minha casa. Lembro em detalhes do noticiário sobre o governo Sarney e das nossas discussões sobre a hiper-inflação, o congelamento de preços e os planos econômicos. Lá em casa todo mundo tinha certeza que nada disso daria certo, e não deu mesmo.

Depois tivemos Collor, o mais xingado de todos. Mas pelo menos o nosso dinheiro ele não confiscou, conseguimos o desbloqueio das contas na Justiça. Coisa que quem não tinha meios '$' não pôde fazer. Lembro que muita gente foi à falência ou passou por necessidades, ocorreram até suicídios. Então veio o impeachment e assumiu "Devagar Franco", cujo grande mérito foi, justamente, escolher FHC para o Ministério da Fazenda.

Fernando Henrique operou o milagre de derrubar a inflação sem pirotecnia. Só isso já colocaria seu nome na história, mas ele fez mais, foi o primeiro governante a quebrar tabus e defender "heresias" como a responsabilidade fiscal. Sim, porque antes dele, havia a crença de que dinheiro surgia na relva, feito orvalho matinal, e que o Estado poderia gastar o quanto quisesse. (É assustador, mas muitos ainda pensam ou agem como se fosse assim!) Ele foi o primeiro presidente a admitir que o Estado estava inchado e fazer algo a respeito, promulgando a Lei de Responsabilidade Fiscal, realizando privatizações, etc. Conseguiu, ainda, renegociar a dívida pública, melhorando seu perfil e recuperando a credibilidade internacional do país.

Mas também cometeu erros, é claro. E o maior deles, apesar de tudo que iniciou, foi ter feito menos do que poderia fazer. Creio que ele poderia ter sido mais vigoroso na reforma da previdência ou promovido uma boa reforma tributária e trabalhista, por exemplo. Mas, ele mesmo se define como de esquerda, o que efetivamente é. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de conhecimento e honestidade intelectual sabe que liberal ou neoliberal FHC nunca foi.

Aliás, algo que ele deixa claro na entrevista é seu pé atrás com o liberalismo, digamos, mais liberal. Confessa sua irritação com a desigualdade, que diz ser da essência do capitalismo. E esclarece que o Estado "pode introduzir um ingrediente adicional de correção". Bem, esta frase per si não diz nada, a maioria das pessoa é favorável à introdução de algum ingrediente de correção pelo Estado. Agora, conhecendo a prática e as tentativas de seu governo, sabemos que apoia algo próximo a alguma forma de social-democracia. Aqui, pode-se dizer que o homem passou tempo demais na França. Valendo o aviso de que, quem tenta manter um pé em cada canoa (socialismo e capitalismo), corre o risco de cair na água.

Um ponto engraçado foi quando, se referindo à política de juros do governo Lula, disse que "Política econômica não é ciência, é navegação. Você tem de navegar: se tem uma pedra no caminho, você contorna. A atual equipe econômica não navega - ela traça uma linha reta e segue em frente de todo jeito, como se não houvesse contexto mais ou menos favorável". Bem, até concordo com ele quanto à falta de flexibilidade da turma de Palocci, mas a metáfora também teria servido feito luva quando, por exemplo, FHC demorou demais a flexibilizar o câmbio, lembram?

De resto, gostei mesmo foi da lucidez de FHC ao definir o panorama político brasileiro, deixando claro que aqui não existe nem nunca existiu uma ideologia ou partido verdadeiramente de direita. São todos de esquerda, matizes diferentes sim, uns mais à esquerda outros mais à direita, mas todos dentro do espectro da esquerda. Os que se dizem ou são denominados direita no Brasil, na verdade são apenas aproveitadores dispostos a apoiar qualquer governo em troca de suas benesses.

Esse último ponto me fez pensar na importância de redefinir os conceitos políticos. Hoje direita e esquerda não significam concretamente nada e isso não é bom. Demonstra a falta de um diálogo racional e de posições fundamentadas na política brasileira. O que podemos esperar de um país que define seus rumos de forma tão superficial e inconseqüente?

domingo, março 19, 2006

Presente pra quem?

- Mãe, leva esse aqui!, diz o garoto apontando um DVD do Metallica.
- Esse nem pensar, vou levar o Kid Abelha.
- Mas mãe, meu pai gosta é do Metallica, o presente não é dele?
- Só que eu também vou assistir.

Mas criança não desiste tão fácil, e o garoto tanto pentelhou que a mãe resolveu ligar para o marido:

- Mô, se fosse pra escolher entre Metallica e Kid Abelha, qual você escolheria? (tensão para a resposta) Ah... sei... Metallica...

- Viu, eu não disse? Ele quer o Metallica!, comemora vitorioso o garoto.
- É, mas eu já resolvi que vou levar o Kid, mocinho.

Se eu fosse esse cara, compraria umas cuecas no aniversário dela e, quando ela fizesse cara de horror e espanto, emendaria: Mas meu bem, você vai poder lavá-las, não é mesmo?

terça-feira, março 14, 2006

Não ia postar isto, mas... Vá lá

Quando eu era garoto, assim como toda criança, eu tinha o poder de me maravilhar com o mundo. Histórias e estórias, ciência e mito, verdades e mentiras, tudo me fascinava. Também o mundo sensorial, apesar de ter sido injustamente desprestigiado em minha vida, tinha suas belezas e prazeres a oferecer: sabores, sons, imagens, cheiros, temperaturas e relevos. Observar um inseto ou uma planta poderia ser incrível. Sentir o vento ou ver a luz do sol poderia ser fabuloso. A vida, em seu estado bruto, puro e irracional fluía dentro de mim.

Mas, em algum lugar, tudo isso se perdeu.

Confesso que a percepção do fim da infância e, infelizmente, junto com ela, da capacidade de me maravilhar, foi algo estranho. Primeiro meus sentidos foram entorpecidos e suas mensagens não eram mais fontes de prazer, espanto ou dor. Nublado esse prazer primário, instintivo e físico, restava o prazer intelectual, meu mundo interno. E assim vivi por algum tempo.

Mas aquele era o início da adolescência e, mesmo tendo perdido o entusiasmo infantil, eu estava disposto a recuperar meus sentidos. Ah, quando se é adolescente o mundo real tem muito a oferecer! Você descobre poderes escondidos em seu corpo. Descobre que pode nadar, correr e saltar como nunca havia imaginado ser capaz. Descobre que o mundo se divide entre nós e eles. Que sua turma é a melhor do colégio, reunindo os mais inteligentes e os mais fortes. Descobre que pode ter todas as garotas do mundo, embora falte coragem para ter pelo menos uma. Acredita que tem algo grande e importante a realizar, mesmo sem saber exatamente o que é.

Só que a adolescência também se vai. É curta, mais curta que a infância. São apenas quatro ou cinco anos de loucura, até que você descobre que o colégio terminou e existe um tal de vestibular. Os amigos se separam, as prioridades mudam, você muda. Foi mais ou menos nesse ponto que eu comecei a secar por dentro.

Não acredito em nada, não vejo magia em nada. Tanto quis escapar da dor, escolher o que sentir e quando sentir, que matei a fonte de todo sentimento: a espontaneidade. Sentimentos não podem ser manipulados sem que se pague um preço. Arrogar-se a onisciência sobre o que é melhor para si mesmo, sem conferir nenhum crédito ao acaso, talvez seja cobrar demais de uma mente tão limitada quanto a humana.

Falando assim, pode parecer que estou revoltado ou deprimido, o que não é verdade. Tristeza é um dos sentimentos que aprendi a manter distantes, pelo menos a maior parte do tempo. Eu só não esperava que esse controle também afastasse de mim a alegria. Não pensei que da mesma torneira que vêm os maus sentimentos, jorrassem os bons. Não esperava que fechá-la me fechasse para toda sensação.

Sabe qual é o meu mal? É estar sempre no controle. Lutei tanto para me encontrar e hoje tudo que desejo é me perder novamente. Estranho como foi preciso adquirir força e sabedoria para perceber que sempre tive tudo. Só não sabia aproveitar.

sexta-feira, março 10, 2006

Roger Moreira (o outro)

Vou te contar o que me faz andar
Se não é por mulher não saio nem do lugar
Eu já não tento nem disfarçar
Que tudo em que eu me meto é só pra impressionar

Mulher de corpo inteiro
Não fosse por mulher eu nem era roqueiro
Mulher que se atrasa, mulher que vai na frente
Mulher dona-de-casa, mulher pra presidente

Mulher de qualquer jeito
Você sabe que eu adoro um peito
Peito pra dar de mamar
E peito só pra enfeitar

Mulher faz bem pra vista
Tanto faz se ela é machista ou se é feminista
'Ce pode até achar que é um pouco de exagero
Mas eu sei lá, nem quero saber,
Eu gosto de mulher! Eu gosto de mulher!

Ô Ô Ô Ô
Eu gosto é de mulher! (4x)

terça-feira, março 07, 2006

Mais Gentilezas Com o Nosso Chapéu

Agora é a vez do Ministério das Comunicações, que pretende criar o "telefone social". A idéia é subsidiar as ligações feitas pela população de menor renda. Só que, como nada é de graça, a conta será paga pelos demais consumidores. Assim, toda vez que você ligar para um telefone popular, pagará mais caro para cobrir a conta dos usuários de baixa renda.

Era só o que me faltava, pagar as ligações da Clarisleide para o namorado Josivaldo.

Recorrendo à lógica de que "tarifa" é o preço pago pelo consumidor por um serviço opcional e individualizado, temos novamente uma aberração.

Será que vocês poderiam, por favor, parar de tentar fazer justiça social?

quarta-feira, março 01, 2006

Gentileza Com o Chapéu dos Outros

Celso Amorim quer entrar na brincadeira de cobrar U$ 2,00 extras na venda de passagens aéreas internacionais. Tudo em prol de um fundo internacional de combate à pobreza mundial. Parece que doze países pretendem adotar a idéia apresentada pela França.

Cada dia me impressiona mais a falta de vergonha na cara dessa gente. Vão cobrar U$ 2,00 extras com base em quê?

Sim, porque tributo é gênero, cujas espécies, esgotando-se toda possibilidade imaginativa, são: impostos, taxas, tarifas, contribuições de melhoria, contribuições sociais e empréstimos compulsórios. Já a cobrança em questão não se encaixa em nenhuma espécie tributária existente.

Impostos são valores cobrados sobre um fato gerador qualquer, como o imposto de renda, cujo resultado deve ir para o caixa geral da União, sendo utilizado para cobrir as despesas do Estado.

Taxas se referem à contra-prestação paga pelo contribuinte por um serviço prestado ou colocado à sua disposição de forma compulsória, como taxa de esgoto.

Tarifa é o preço pago por um serviço opcional que o contribuinte efetivamente utilizou, como telefone.

Contribuição de melhoria é quando você paga por um serviço de infra-estrutura que te beneficiou diretamente, como o asfaltamento da sua rua, por exemplo.

Contribuições Sociais englobam diversos valores, desde as contribuições sindicais (caráter parafiscal), até os valores pagos para manter a previdência, saúde, etc.

Já empréstimo compulsório é uma aberraçãozinha inventada no Brasil, segundo a qual o cidadão é obrigado a emprestar dinheiro ao Estado. Em casos de calamidade pública ou guerra, até dá pra engolir essa. Só que também é possível o empréstimo compulsório para atender a investimento público urgente e de relevante interesse nacional. Sarney que o diga...

Como deu pra notar pelas definições acima, todo tributo deve obrigatoriamente ser revertido em algum benefício para o contribuinte. Até os impostos, que não têm destinação específica, devem ser utilizados para suprir despesas do Estado, como educação, estradas, pagamento de funcionários, manutenção do exército, etc.

Então, volto a perguntar: Com base em que pretendem cobrar U$ 2,00 na compra de passagens aéreas? Qual o benefício, direto ou indireto, que o contribuinte irá receber em troca? Com que direito pretendem nos fazer contribuir obrigatoriamente para o combate à pobreza mundial?

Trocando em miúdos, a medida é inconstitucional, já que ultrapassa o permitido pela Carta Magna. É juridicamente absurda, por inventar uma nova espécie de tributo sem qualquer relação com benefícios ao contribuinte ou despesas do Estado. E prejudica a economia, por interferir nocivamente nas relações de mercado.

Mas, principalmente, é imoral, por fazer gentileza com o chapéu dos outros.

Update

Cometi um erro no 4º parágrafo. Usei a venda de mercadorias como exemplo de fato gerador de imposto e, logo adiante, disse que o resultado iria para a União. No Brasil, a circulação de mercadorias gera um imposto estadual (ICMS) e não federal. Infelizmente só percebi o erro hoje (07/03/06). O texto já foi corrigido e a venda de mercadorias substituída pelo imposto de renda, este sim federal.