Não ia postar isto, mas... Vá lá
Quando eu era garoto, assim como toda criança, eu tinha o poder de me maravilhar com o mundo. Histórias e estórias, ciência e mito, verdades e mentiras, tudo me fascinava. Também o mundo sensorial, apesar de ter sido injustamente desprestigiado em minha vida, tinha suas belezas e prazeres a oferecer: sabores, sons, imagens, cheiros, temperaturas e relevos. Observar um inseto ou uma planta poderia ser incrível. Sentir o vento ou ver a luz do sol poderia ser fabuloso. A vida, em seu estado bruto, puro e irracional fluía dentro de mim.
Mas, em algum lugar, tudo isso se perdeu.
Confesso que a percepção do fim da infância e, infelizmente, junto com ela, da capacidade de me maravilhar, foi algo estranho. Primeiro meus sentidos foram entorpecidos e suas mensagens não eram mais fontes de prazer, espanto ou dor. Nublado esse prazer primário, instintivo e físico, restava o prazer intelectual, meu mundo interno. E assim vivi por algum tempo.
Mas aquele era o início da adolescência e, mesmo tendo perdido o entusiasmo infantil, eu estava disposto a recuperar meus sentidos. Ah, quando se é adolescente o mundo real tem muito a oferecer! Você descobre poderes escondidos em seu corpo. Descobre que pode nadar, correr e saltar como nunca havia imaginado ser capaz. Descobre que o mundo se divide entre nós e eles. Que sua turma é a melhor do colégio, reunindo os mais inteligentes e os mais fortes. Descobre que pode ter todas as garotas do mundo, embora falte coragem para ter pelo menos uma. Acredita que tem algo grande e importante a realizar, mesmo sem saber exatamente o que é.
Só que a adolescência também se vai. É curta, mais curta que a infância. São apenas quatro ou cinco anos de loucura, até que você descobre que o colégio terminou e existe um tal de vestibular. Os amigos se separam, as prioridades mudam, você muda. Foi mais ou menos nesse ponto que eu comecei a secar por dentro.
Não acredito em nada, não vejo magia em nada. Tanto quis escapar da dor, escolher o que sentir e quando sentir, que matei a fonte de todo sentimento: a espontaneidade. Sentimentos não podem ser manipulados sem que se pague um preço. Arrogar-se a onisciência sobre o que é melhor para si mesmo, sem conferir nenhum crédito ao acaso, talvez seja cobrar demais de uma mente tão limitada quanto a humana.
Falando assim, pode parecer que estou revoltado ou deprimido, o que não é verdade. Tristeza é um dos sentimentos que aprendi a manter distantes, pelo menos a maior parte do tempo. Eu só não esperava que esse controle também afastasse de mim a alegria. Não pensei que da mesma torneira que vêm os maus sentimentos, jorrassem os bons. Não esperava que fechá-la me fechasse para toda sensação.
Sabe qual é o meu mal? É estar sempre no controle. Lutei tanto para me encontrar e hoje tudo que desejo é me perder novamente. Estranho como foi preciso adquirir força e sabedoria para perceber que sempre tive tudo. Só não sabia aproveitar.
Mas, em algum lugar, tudo isso se perdeu.
Confesso que a percepção do fim da infância e, infelizmente, junto com ela, da capacidade de me maravilhar, foi algo estranho. Primeiro meus sentidos foram entorpecidos e suas mensagens não eram mais fontes de prazer, espanto ou dor. Nublado esse prazer primário, instintivo e físico, restava o prazer intelectual, meu mundo interno. E assim vivi por algum tempo.
Mas aquele era o início da adolescência e, mesmo tendo perdido o entusiasmo infantil, eu estava disposto a recuperar meus sentidos. Ah, quando se é adolescente o mundo real tem muito a oferecer! Você descobre poderes escondidos em seu corpo. Descobre que pode nadar, correr e saltar como nunca havia imaginado ser capaz. Descobre que o mundo se divide entre nós e eles. Que sua turma é a melhor do colégio, reunindo os mais inteligentes e os mais fortes. Descobre que pode ter todas as garotas do mundo, embora falte coragem para ter pelo menos uma. Acredita que tem algo grande e importante a realizar, mesmo sem saber exatamente o que é.
Só que a adolescência também se vai. É curta, mais curta que a infância. São apenas quatro ou cinco anos de loucura, até que você descobre que o colégio terminou e existe um tal de vestibular. Os amigos se separam, as prioridades mudam, você muda. Foi mais ou menos nesse ponto que eu comecei a secar por dentro.
Não acredito em nada, não vejo magia em nada. Tanto quis escapar da dor, escolher o que sentir e quando sentir, que matei a fonte de todo sentimento: a espontaneidade. Sentimentos não podem ser manipulados sem que se pague um preço. Arrogar-se a onisciência sobre o que é melhor para si mesmo, sem conferir nenhum crédito ao acaso, talvez seja cobrar demais de uma mente tão limitada quanto a humana.
Falando assim, pode parecer que estou revoltado ou deprimido, o que não é verdade. Tristeza é um dos sentimentos que aprendi a manter distantes, pelo menos a maior parte do tempo. Eu só não esperava que esse controle também afastasse de mim a alegria. Não pensei que da mesma torneira que vêm os maus sentimentos, jorrassem os bons. Não esperava que fechá-la me fechasse para toda sensação.
Sabe qual é o meu mal? É estar sempre no controle. Lutei tanto para me encontrar e hoje tudo que desejo é me perder novamente. Estranho como foi preciso adquirir força e sabedoria para perceber que sempre tive tudo. Só não sabia aproveitar.
3 Comments:
Acho que temos muito mais coisas em comum do que apenas ter começado a blogar na mesma época.
quase chorei. que triste. alex castro
Olá,
Estou no período no qual me perco...
Por 17 anos em minha cidade natal, mesmo colégio, mesma roda de pessoas...agora o acaso me fez estudar em uma universidade em outra cidade, tudo mudou, tudo mudando.
Tem algum conselho? :)
Gostaria de um "feedback", se puder, é claro...
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