sexta-feira, dezembro 16, 2005

Adieu, Mon Ami!

A gente não percebe quando cresce (se é que algum dia crescemos). Mas, quarta-feira, me despedi de um verdadeiro ícone da minha infância: o avião de caça Mirage III.

Em operação desde a década de 70, o Mirage III, de fabricação francesa, acaba de ser aposentado com honras militares, sendo substituído pelos Mirages 2000, bem mais modernos.

Pra quem foi criança em Anápolis, sede do 1º GDA (Primeiro Grupo de Defesa Aérea do Brasil), responsável pela defesa de Brasília, Centro-Oeste e Amazônia, os Mirages III representaram um sonho. Não há criança que não tenha desejado voar num deles ou que não tenha ficado de longe admirando os pilotos, nossos super-heróis.

Claro, sempre haviam os sortudos que eram filhos dos super-heróis. Esses, na escala social do colégio primário, ficavam no topo da pirâmide, bem ao lado dos bons-de-bola. Com a diferença de que, os filhos de pilotos, sempre tinham histórias mais interessantes pra contar, mesmo que mentirosas. - Perdi as contas de quantas vezes a Argentina tentou nos invadir, ou que tivemos que botar os OVNIs safados pra correr! -

Não sou filho de militar, mas tive o prazer de conhecer tudo de perto. Fui aos hangares da base aérea, ví o cockpit dos Mirages, conversei com todo mundo e até fiquei ao lado da pista vendo as decolagens. Coisa que esfreguei na cara de todos os meus amiguinhos, é claro.

Outra lembrança que fica, é a do barulho que faziam ao ultrapassar a barreira do som. Um verdadeiro tiro de canhão!, que balançava vidraças e dava pra escutar da cidade toda. Mas a gente não se assustava com isso não, estávamos acostumados. Até sentíamos falta no dia que não davam nem um "tirinho". Também inesquecíveis, foram os vôos rasantes e manobras em dias de festa.

Agora, o último Mirage III vai descansar em praça pública. Foi colocado num pedestal, no meio de um espelho d'água - um monumento lindo. Lá ele permanecerá, em posição de vôo, eternamente voltado para o céu.

Esse combatente não lutou nenhuma guerra, mas, se mereceu tantas honras, eu sei o real porquê. Foi uma linda homenagem, de toda uma geração, à criança que um dia fomos.

P.S. Fico devendo fotos do monumento. Mas, cliquem nas figurinhas e vejam como ele é lindo.