sexta-feira, novembro 04, 2005

A Coragem e a Lança

"Você é mesmo um grosso insensível, heim?" - disse ela, interrompendo meu estado letárgico. Normalmente eu não daria muita bola para esse tipo de intromissão, ou, no máximo, responderia de forma mau educada, fazendo uso do conhecido sarcásmo que gostava de exibir naquela época. Mas, aqueles eram dias difíceis... Então não fiz nem uma coisa nem outra; apenas desviei o olhar da TV em atenção a ela.

Tinha terminado um namoro que durou cerca de um ano, justamente com uma amiga da minha agressora, e realmente não estava bem. Aliás, o que de início chamou minha atenção, foi o estranhamento com o fato daquela quase desconhecida, não mais que uma colega de faculdade, se sentir no direito de tomar satisfações comigo. O pior é que ela nem era tão amiga assim da minha ex, o que tornava a coisa toda mais bizarra ainda. Na verdade, como vim a deduzir sem muito esforço, ela não estava nem aí para a amiga. Embora não se desse conta disso, ela não queria era perder a chance de desdenhar de mim: um irritante, conhecido e combatido símbolo de "onipotência auto-presumida" - acusações injustas, garanto.

Mas a questão é que ela estava lá, despejando suas ofensas naquele tom professoral, de quem quer, mui bem intencionadamente, te dar lições de moral ou conduzir à luz divina. Só que, apesar do ridículo de uma pessoa que não tinha nada a ver comigo vir me passar sermão, eu não conseguia ter raiva ou reagir. Aliás, eu nem escutava o que ela dizia. Depois daquela primeira frase que me fez voltar o olhar para entender o que se passava, desviei meu pensamento. Estava emocionalmente cansado e, sem disposição para morder de volta, comecei a pensar noutras coisas enquanto ela falava.

Foi quando meus olhos encontraram aquele decote: sim, minha nova inimiga tinha lindos seios! - Um par maravilhoso deles -, que, de tão firmes e redondos, pareciam querer saltar da pequena blusa. Mas não, não eram grandes como dita a moda, seu porte médio guardava ideal proporção em relação ao corpo, também belíssimo. Isso sem falar na silhueta e delicado relevo que os bicos, pequenos e rígidos, imprimiam ao tecido. Uma obra de arte, sem dúvida!

E assim seguia nossa conversa... Eu lá, de cabeça baixa, em obsequioso silêncio, admirando a beleza daqueles seios. Enquanto ela, vitoriosa, inflava o peito de orgulho por me fazer ver o homem horrível que eu era.

De qualquer forma, pouco a pouco, eu me via sair daquela apatia emocional. Estava ficando excitado, tanto com a situação, como com a visão daquele decote. Até que, levantando a cabeça, olhei decidido nos olhos dela. Ela se calou. Sentiu que eu ia dizer ou fazer algo. Me aproximei, inclinei o corpo para falar ao ouvido dela, e disse: Você tem seios lindos, sabia?

A garota ficou atônita, mudou até de cor, passando primeiro para o branco e depois para o vermelho. Deu dois passos pra frente, três para trás, olhou para os lados procurando a saída e, marcando o rumo da porta, saiu feito flecha engasgando um "Seu sem vergonha!".

Nos amamos muito durante dois anos.

3 Comments:

Blogger Julia said...

Olá! Bem-vindo sejas!

5/11/05 02:38  
Anonymous Anônimo said...

De quem, quando, como? Seria um ótimo roteiro para um curta metragem ou um curta de animação.

7/11/05 22:59  
Blogger Roger said...

Grato pelo elogio, os textos são sempre meus, claro. Quanto ao curta, Coppola, Spielberg e Tarantino vão disputar o roteiro numa luta de sumô, próximo sábado. Estou torcendo pro Tarantino, quero algo bem trash!

8/11/05 12:57  

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